Dos 43 contrabandistas de cigarro alvos da Operação Nepsis, deflagrada sábado (22) pela Polícia Federal e PRF (Polícia Rodoviária Federal), 11 ainda não foram localizados. As equipes continuam em diligências para localizar os suspeitos, cujos nomes não foram informados.
A assessoria da Polícia Federal em Dourados informou hoje (24) que todos os envolvidos na máfia do cigarro presos no sábado foram transferidos da delegacia da PF na cidade, onde as prisões tinham sido concentradas.
Após a audiência de custódia na Justiça Federal, encerrada na noite de sábado, os policiais presos – seis PRFs lotados em Bataguassu, dois policiais militares (dois já estavam presos) e dois agentes da Polícia Civil – foram levados para Campo Grande, entre eles o cabo da PM Joacir Ratier de Souza, 44, lotado no 3º Batalhão em Dourados.
Os quatro líderes da quadrilha também foram transferidos ainda no sábado. Entre eles está o chefão do bando, Ângelo Guimarães Ballerini, o Alemão, preso no Jatiúca Hotel Resort, em Maceió.
Ele se casaria no resort na tarde do mesmo dia em que foi preso. Também foram presos no hotel outros dois líderes da quadrilha, um deles irmão de Ângelo Ballerini, conhecido como Lupa. O quarto líder foi preso em seu pesqueiro, no município de Eldorado, região sul de Mato Grosso do Sul.
A operação – Os quatro líderes presos no sábado já tinham sido alvos da Operação Marco 334, em 2011. Na época, o grupo conseguiu escapar e fugir para o Paraguai, mas continuou atuando. Em julho deste ano, o crime foi prescrito e eles voltaram a dar as caras publicamente. O casamento de Alemão foi oportunidade única para prendê-los, segundo a PF.
Conforme a investigação, o esquema em mercadorias contrabandeadas causou prejuízo de R$ 1,5 bilhão para os cofres públicos. Estima-se que, no ano passado, segundo a PF, os envolvidos tenham sido responsáveis pelo encaminhamento de ao menos 1.200 carretas carregadas com cigarros contrabandeados às regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste.
Líderes da organização empresarial intitulado pela polícia de “Consórcio de Contrabando” enriqueceram com alianças “narcocigarreiras” e em cima de dois pilares: a estrutura logística altamente sofisticada e a corrupção policial.
O delegado da Polícia Federal Felipe Vianna de Menezes, coordenador das investigações, apontou a quadrilha como uma das organizações mais complexas do país crime. “É uma investigação de dois anos e a PF conseguiu entrar na estrutura da organização”.
A estrutura logística se desenvolvia pela mobilização de gerentes. Essas pessoas eram responsáveis por determinados trechos das rotas e por recrutar batedores, “mateiros” e motoristas para passarem as cargas, tendo em vista, que o contrabandista escolhido só consegue passar por determinado local com a liberação do gerente.
“Esse liberação vai acontecendo de trecho em trecho até a saída do estado. Outro papel, além de coordenar a movimentação, é o do policial corrupto, que atua como ponte entre a organização e outros policiais. E esse policial, normalmente age com vista grossa, ou seja, deixa de fiscalizar”, disse o delegado.
Um dado interessante levantado na investigação é o poder de influência que os “gerentes” possuíam sobre diversos policiais. “Foram interceptadas ligações que os gerentes ordenavam aos policiais fizessem a “contra vigilância” e identificassem policiais honestos, ou seja, os recrutados deveriam chegar até os honestos e impedir a fiscalização das cargas”, afirmou Menezes.
O que se detectou, segundo o delegado, foi o aumento do nível de violência da organização e, inclusive a criação de alianças com facções criminosas e grandes narcotraficantes, chamadas de “narcocigarreiras”.
Menezes explica que a organização começou passando as próprias cargas, mas quando dominou a estrutura logística e aumentou os gastos com os “recrutados”, iniciou a passagem de carga de outros cigarreiros se tornando uma espécie de “consórcio de contrabando”.